19 de julho de 2015

Branca de Neve e os Sete Anões – O Filme Marco na História do Cinema de Animação (1ª Parte)

Nas últimas postagens da História do Cinema de Animação conhecemos algumas das inovações técnicas formuladas pelo estúdio Disney que permitiram um exímio desenvolvimento técnico e artístico no cinema de animação. Todo esse progresso induziu Walt Disney a produção do filme que marcaria não apenas a história do cinema de animação, mas a história do cinema Mundial – Branca de Neve e os Sete Anões.

Nas próximas postagens vamos conhecer um pouco mais sobre a intricada produção do filme e alguns dos motivos que consagraram este filme como um marco. “Branca de Neve e os sete anões” estreou na cidade de Los Angeles em 21 de dezembro de 1937. O local escolhido para a estreia do filme marco foi o cinema Carthay Circle de 1500 lugares, mesmo local onde Walt Disney exibiu seu primeiro curta da série Sinfonias Ingênuas – “The Skeleton Dance”, em 1929.

Animação de Silhuetas de Lotte Reiniger

Muito se debate sobre o título do primeiro longa-metragem de animação, alguns historiadores citam o filme “El Apostol” (1917), dos argentinos Diógenes Taborda e Quirino Cristiani como primeiro longa-metragem animado. Contudo, não existe nenhum registro histórico deste filme e como o mesmo contribui para a animação, seja técnica ou artisticamente. Outros, referem-se ao filme “Die Abenteuer des Prizen Achmed” (1926), da alemã Lotte Reiniger, que recebeu atenção apenas no seu lançamento devido ao auxílio para a divulgação desse tipo de animação de silhuetas, porém, esse não conseguiria manter o interesse de uma plateia, devido aos limites expressivos da técnica utilizada. Branca de Neve e os sete anões se destaca pelo fato de manter o espectador interessado na narrativa e por toda a contribuição técnica. Ele é também considerado o primeiro filme de animação visando o mercado de entretenimento cinematográfico.

Cartaz de “Snow White and the Seven Dwarfs” (EUA, 1993)

A produção de Branca de Neve e os Sete Anões começou em 1934. Disney reuniu toda sua equipe e narrou a eles a história que havia marcado sua infância, e mostrou, interpretando cada um dos personagens, como o conto dos irmãos Grimm era perfeito para a adaptação do primeiro longa-metragem de animação do estúdio. O animador John Lasseter afirma que foi Branca de Neve que tornou a Disney um grande estúdio e revolucionou o método de animação.

Esboço da personagem

A história que envolve toda sua produção mostra a ousadia de Walt Disney em arriscar em uma época em que fazer longas animados era um absurdo. Momento que o cinema de animação era considerado um entretenimento meramente infantil, que se limitava a atuação de animais de formas antropomórficas em narrativas abarrotadas de piadas visuais e que não extrapolava seis minutos de apresentação antes da exibição do filme principal. O próprio Walt Disney se perguntava, às vezes, se alguém iria querer assistir a um desenho animado de longa-metragem. Disney foi considerado um louco por tentar fazer um longa-metragem animado. Os jornais anunciavam em suas manchetes como a “Tolice de Disney”. O próprio diretor de arte do filme animado, Ken Anderson, questionava: “Como alguém poderia sustentar a ideia de uma hora e meia de animação?”.

Dunga

Era necessário expandir e alterar o formato dos desenhos animados e a narrativa que os envolvia. Walt Disney, anos antes, tinha receio da aceitação da plateia quanto à voz e sons emitidos em um filme animado. Sua preocupação agora era: como envolver o espectador emocionalmente com as personagens do longa-metragem animado para sustentar o filme?

O Príncipe 

Na primavera de 1934 iniciou-se o processo de melhoria da história e desenvolvimento do roteiro. Entre as várias versões do conto de fadas que já existiam (do príncipe aprisionado pela rainha, a rainha cometendo três atentados contra a vida de Branca de Neve e a rainha dançando até morrer com sapatos em brasas) foi escolhido à versão que foi apresentada por Walt Disney na reunião em que interpretou todos os personagens para ser a adaptada para o roteiro do filme. Mas na verdade, essa versão eram as lembranças de uma apresentação teatral, a qual ele esteve presente, em 1914.

Animando o Mestre

Walt Disney estava obcecado com Branca de Neve, o filme seria a grande chance de reconhecimento real. Enquanto a história passava por vários reajustes, os animadores assistiam às aulas de análise da projeção da ação, cronometragens, composição, desenho de animais e teorias sobre a cor. Para o aprimoramento narrativo, Walt Disney contratou um especialista para lecionar sobre dissecação de piadas. Contudo, Walt Disney ainda não sabia se o filme deveria haver mais piadas ou mais ênfase na personalidade. Deveriam preocupar-se com que era mais bonito, ou com o sentimento mais profundo?

Eu vou, eu vou, eu vou...

E a personalidade realmente foi um fator preocupante para Walt Disney. No primeiro instante, quando foram decididas as linhas básicas da história, Disney teve dificuldade em dar nomes aos anões, já que estes deveriam representar características da sua personalidade. As primeiras listas iniciais incluíam nomes como: Brigão, Bizarro, Falante, Tolo, Gordão, Nervoso, Careca, Preguiçoso, Alegre Tagarela. Contudo, os nomes escolhidos foram: Mestre, Zangado, Feliz, Dengoso, Soneca, Atchim e Dunga.  Na verdade, Walt Disney realmente desejava um desenho animado conduzido pela personalidade, os animadores deveriam conhecer cada um dos anões antes de trançá-los no papel, expressando assim todas as suas essências para que o público os diferenciassem dos demais personagens.

Cores, sons e personalidade

 Além da personalidade, o som e o visual também preocupavam Walt. Para as vozes dos personagens, os animadores selecionavam as vozes e os diálogos antes de iniciar o processo de animar as cenas que continham diálogos. Para a gravação das canções a personalidade também deveria condizer com a forma e o jeito de cantar.

Walt Disney buscava em Branca de Neve uma animação distinta não apenas no estilo, mas na composição da paleta de cores. O estúdio Disney chegou a desenvolver uma tinta própria, na qual sua aderência ao papel celuloide era concreta, mas também permitia ser liquefeita para corrigir possíveis erros de pintura. No fim, a paleta de cores que compõem o filme marco é composta por cores neutras, pois não sabiam como seria a tolerância do público quanto à utilização de cores vivas semelhante às dos curtas-metragens das séries de desenhos do Mickey Mouse e das Sinfonias Ingênuas. Essa escolha de cores suaves e menos brilhantes foi a escolha certa para obter a profundidade e o realismo almejado para o longa-metragem. Era como se cada frame do filme fosse uma pintura de um grande artista.

Disney e os Sete Anões

            Na próxima semana vamos conhecer mais do processo da produção do filme, curiosidades e os desafios enfrentados por Walt Disney para finalizar o filme marco, da princesa que iniciou o reinado que conhecemos hoje. “Porque tudo que se seguiu, todos os desenhos, filmes e parques temáticos, tudo que Disney fez depois foi construído com base nesse filme” (Brian Sibley - Historiador de Cinema).