24 de abril de 2016

História do Cinema de Animação – O Boom da Computação Gráfica na Década de 1980 (24ª Parte)

Na última postagem conhecemos a evolução da animação digital e a computação gráfica entre as décadas de 1950 e 1970. Na postagem de hoje conheceremos um pouco mais do boom da computação gráfica na década de 1980. Iremos explanar sobre o desenvolvimento das imagens e animações digitais aplicadas nos games. E as importantes contribuições e os primeiros passos que permitiram a união do cinema com a computação gráfica.

A evolução dos games

Ainda na década de 1980, os games continuaram sua evolução e inovação, tanto em termos de hardware quanto no software. Esse avanço permitiu um número maior de títulos, que se diferenciavam nos elementos gráficos, na animação e na própria forma de jogar, na influência mútua dos games e dos jogadores. Os videogames foram bastante importantes nesse momento, pois além de todo avanço tecnológico, contribuíram com a interação do público em relação às imagens e animações geradas por computador.

Publicidade do portátil Game & Watch

Nesse momento teremos duas grandes empresas que vão se destacar: Atari e Nintendo. A Atari vai se sobressair com a produção de jogos vetoriais que permitiu a construção de jogos diversos, com animações suaves e uma variável de movimentos. A Nintendo, por outro lado, criou uma série de games portáteis popularmente conhecida como Game & Watch. O antecessor do Game Boy utilizava de uma tela de cristal líquido ligada a circuitos semelhantes aos de relógios digitais e foi fabricado até 1991. A série Game & Watch, além de ser considerada a primeira linha de jogos portáteis, também foi um dos elementos que contribuiu para o sucesso e destaque da empresa Nintendo no mercado de games.  

O inovador Dragon's Lair

Dragon’s Lair (1982) foi o primeiro jogo lançado para laserdisc (disco óptico com armazenamento de áudio e vídeo) que se destacou por apresentar sequencias animadas em vídeo totalmente renderizadas. Podemos dizer que essas sequencias de vídeo foram as “primeiras” cut-scene dos games. As cut-scene são os pequenos trechos fílmicos exibidos nos jogos, seja como parte da introdução ou complementando a história do jogo. Dragon’s Lair se destacou por apresentar as sequencias animadas cinematográficas e um design distinto que funcionava como uma animação interativa para jogadores. Essa contribuição apresentada por este game foram os primeiros passos que possibilitaram a aproximação dos games e os filmes que vivenciamos hoje.

Gollum, personagem digital em Senhor dos Anéis

E falando em filmes, a indústria cinematográfica, mesmo com os altos custos da animação digital de alta qualidade, na década de 1980, aproveitou bastante desse meio e ainda aprimorou o seu uso e conseguiu moldar essa tecnologia, usufruindo dele cada vez mais, a ponto de conciliar e unir as linguagens da computação com a cinematográfica. A evolução do uso do CGI permitiu ao cinema criar uma estética própria, possibilitando a interação com os atores reais e o próprio surgimento de personagens digitais em filmes de ação ao vivo. É importante frisar que o cinema busca constantemente o uso de imagens fotorrealistas para convencer o espectador das narrativas fantasiosas e fictícias.

O 1º personagem digital

Os personagens digitais, são aqueles construídos totalmente pela computação gráfica. Atualmente, é extremamente comum a utilização desse tipo de recurso em diversos tipos de filmes, com uma representação bastante convincente por parte desses protagonistas digitais. E foi na década de 1980, com o filme “O Enigma da Pirâmide” (1985) que a Industrial Light and Magic (ILM) conseguiu construir o primeiro personagem digital tridimensional. O filme de Barry Levinson apresenta um cavaleiro saindo de um vitral colorido e que interage com o ator real.

O revolucionário Tron (1982)

O filme Tron (1982) é considerado um dos maiores marcos do uso da computação gráfica no cinema. O filme inovador e com estilo visual único consegue unir com coerência os planos, enquadramentos e composição da linguagem cinematográfica dos filmes de ação ao vivo com a animação por computador. O filme que foi montado quadro a quadro, mesmo sendo da Disney apresenta esforços de outras produtoras de animação computadorizada, apresentando um bonito trabalho artístico criado por programas de computador.

A construção digital de Tron

O filme também demonstra o desejo da Disney na tentativa de se diversificar para atingir um novo público. A narrativa do filme apresenta um criador de jogos de videogames que é transportado para o universo dos computadores, no próprio programa que ele criou, que deve enfrentar o antagonista que é o CPU da máquina. O filme apresenta um aspecto visual único e atemporal, em uma narrativa que apresenta aspectos da civilização humana associada ao funcionamento de um computador, em uma aventura de videogame.

Tron, o Legado (2010), a continuação lançada quase 30 anos depois 

 Tron, estreou na mesma época que E.T. – O extraterrestre (1982) de Steven Spielberg e acabou sendo um fracasso de bilheteria e como obra cinematográfica. Mesmo com seu design, o filme acabou sendo desprezado pelo público e pela crítica. Tal preterição se deve a desorganização do seu próprio roteiro, que mesmo com uma boa história, acabou não sabendo como desenvolve-lo como narrativa fílmica. O que o filme se destacou ao unir a linguagem cinematográfica com a computação gráfica, falhou exatamente na execução artística do seu roteiro, não sabendo contar bem uma boa história, comprometendo a narrativa e prejudicando a interação e diegese do espectador com a narrativa fílmica.

Pixar Animation Studios

Na próxima postagem abordaremos a importância da figura do animador que vai saber conciliar os conhecimentos da animação tradicional com a nova tecnologia que se expandia cada vez mais para o cinema, além dos curtas-metragens em animação computadorizada que se tornaram o diferencial, sabendo combinar coerentemente a técnica e tecnologia.